terça-feira, 10 de julho de 2007

GENTE GUAPA



Gente Guapa
Léo Santos Brum
(Santos, o tropeiro)



DIZ A HISTÓRIA
Não há na vida espiritual de um povo, problema mais importante que o da sua história.
Alcides Maia
...que Jaguarão, como cidade fronteira, suportou longo tempo, o impacto do velho antagonismo das duas nações colonizadoras da América do Sul: Espanha e Portugual.
Por sua posição de sentinela de grande pátria brasileira, foi que sofreu as ocorrências de 27 de janeiro de 1865.
Estava o Uruguai numa guerra civil iniciada no ano de 1863, entre os partidos “ blanco” e “colorado”, pois encontrava-se no poder D. Anastácio Aguirre, que era combatido pelo Gen. Venâncio Flôres, da facção “colorada”.
O império apoiou o General Flôres e suas forças foram parte decisiva na tomada de Paisandu e no cerco de Montevidéu, que estavam ocupadas por Aguirre.
Para um contra-ataque e distrair o exército brasileiro, que marchava sobre a capital uruguaia, mandou Aguirre, os Coronéis Basílio Munõz e Timóteo Aparício, com uma coluna de 1.500 homens, aos quais juntaram-se bandos de “matreiros”, ávidos de saque e pilhagem, invadir o Rio Grande do Sul pela fronteira de Jaguarão.
Embora o esforço do comandante da praça, que insistia junto ao Governo e comandante das forças em Guarnição na Província, mostrando-lhes esse perigo, que era pressentido desde o início de janeiro de 1865, as forças de Jaguarão, comandadas pelo Coronel da Guarda Nacional Manoel Pereira Vargas, eram compostas por pouco mais de 500 praças mal armadas, que foram reculutadas entre os civis, e a proteção das pequenas canhoneiras “Apa” e “Cachoeira”, que faziam o patrulhamento da lagoa Mirim e do rio Jaguarão.
No dia 27 de janeiro de 1865, o município de Jaguarão foi invadido pelo chamado “Exército de Vanguarda da República Oriental” e na parte da manhã travaram-se as primeiras escaramuças.
Conta-nos a tradição oral, demonstrando a tensão nervosa de que eram tomados os povoadores desta cidade, um fato ocorrido nessa manhã com o Comendador João Rodrigues Barbosa – avô do flamejante tribuno e poeta conterrâneo Barbosa Neto -, consagrado atirador e que com sua pistola, sentado à sacada do sobrado frente ao atual Largo das Bandeiras, derrubava andorinhas em pleno vôo.
Ao saírem as nossas forças para reconhecer o inimigo, que vinha do Passo da Armada, ia junto o Comendador Barbosa. Ao avistarem-se os dois bandos, contam que um lanceiro “blanco” apartou-se da sua tropa e carregou direito ao grupo onde estava o nosso personagem.
Imediatamente, com a insistência, dos presentes, que pediram-lhe que “baixasse”aquele índio, já que tinha boa pontaria, o Comendador apoiado sobre os arreios de seu cavalo, como trincheira, disparou vários tiros, sem conseguir alvejar o lanceiro, que em nova carga, obrigou-o a retroceder e valer-se do pingo, que era “bueno”.
Ainda na parte da manhã, o exército de Basílio e Timóteo entrou na cidade, sendo rechaçado pelos locais, que se encontravam entrincheirados.
Às 13 horas a cidade foi intimada a render-se, tendo respondido o Coronel Manoel Vargas, Comandante da Guarda, depois de consultar o estado maior, que o invasor poderia continuar ao ataque, pois Jaguarão jamais se renderia.
Às 15 horas é reiniciado o combate, cuja luta mais cruenta foi na Rua das Praças (hoje Avenida 27 de Janeiro), havendo ocasiões em que grupos de combatentes deixavam o abrigo das estacas, indo atacar os sitiantes em pleno campo, prolongando-se até o anoitecer, quando a força aguirrista retirou-se, levando tudo que encontrou na campanha desprotegida como troféu de guerra, sendo perseguida por um punhado de bravos voluntários.
Junto ao povo de Jaguarão, lutaram muitos estrangeiros, inclusive uruguaios “colorados”, mas também houve espiões que denunciavam os movimentos da cidade aos inimigos.
Ambos contendores tiveram várias baixas entre mortos e feridos, sendo que entre os jaguarenses, ficou ferido vindo a morrer logo depois, o Major Anacleto Ferreira Porto.
Toda a população, sem distinguir sexos e raças, foram heróis nesta jornada, porém, além dos que já citamos, tiveram parte saliente nesta resistência, os cidadãos: Fortunato Vergara David Pereira Rosa, Emigdio José de Sant'ana e Pedro Amaro da Silveira.
Por esse feito, Jaguarão ostenta em seu brasão, com nobreza, o título de “Cidade Heróica”.
A esse fato que a história brasileira registra é que nós rendemos homenagem.
Fonte: Cadernos Jaguarenses, Volume 2, Instituto Histórico e Geográfico de Jaguarão / 1998

3 comentários:

  1. Sou Jaguarence de nascimento, não estudei ai, por isso pouco conheço da história da minha cidade,queria agradecer a voces este Jornal.
    Ainda tem uma parte da História da minha terra que procuro, que se refere as tribos que habitavam a região, e da presumível existência de Mulheres indias guerreiras que ofereceram resistência a colonição.
    Mais uma vez obrigado por terem me proporcionado esta leitura.

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  2. Gostar de saber sobre o Escritor Antônio Carlos Marques, de quem conheci a obra recentemente e estou estupefata pelo conteúdo abrangente e original de seus livros proféticos que fazem todo sentido.
    Poderiam me contar um breve relato sobre esse ilustre morador daí??

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  3. Oi, Simone
    Obrigada pelo comentário.

    Vou tentar conseguir o material e enviar para ti.
    Preciso que envies teu endereço eletrônico, pois no comentário do blog não fica registrado.
    Envia para carminha.rh@gmail.com
    Um abraço
    Carmem

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